Ao contrário do que o título sugere,
não farei uma descrição detalhada das origens dessa comemoração, nem de
seus símbolos (embora cite algumas neste texto). E tenho três motivos
para isto: primeiro, devido à existência de explicações contradizentes
para um mesmo fato (muitas delas, frutos de pura especulação); segundo,
pois há centenas de páginas na internet destinadas ao assunto; terceiro,
porque pretendo apenas colocar o meu ponto de vista e não, fazer um
apanhado de informações históricas. Mas, afinal, devemos ou não
comemorar essa data? O que o Natal realmente representa? Podemos trocar
presentes e colocar uma árvore ou um presépio em nossa casa? E o que
dizer sobre o Papai Noel?
Antes de tudo, devemos entender o que é o Natal. Se perguntarmos a qualquer pessoa, a reposta quase sempre será: “é a comemoração do nascimento de Jesus Cristo”.
Mas, na verdade, é (em teoria) muito mais do que isso. O Natal
representa o nascimento não apenas de Jesus Cristo encarnado, mas também
de uma nova vida, que surge em cada um de nós, a partir do momento em
que O reconhecemos como nosso Senhor. Porém, sabemos que na prática o
que quase todas as pessoas celebram é um Natal apenas de exterioridades,
ou seja, mais uma data de festa... mais um feriado.
Para ser mais didático, analisarei alguns argumentos contrários a
celebração do Natal, que ao meu ver são muito superficiais e
inconsistentes. Em seguida, concluirei com minha opinião e farei algumas
considerações importantes sobre o assunto.
Fazendo uma breve discussão sobre as alegações contrárias a celebração do Natal "moderno":
1 - Jesus não nasceu em 25 de dezembro = Que diferença isso faz?
Segundo estudiosos, uma data mais provável seria o mês de setembro,
outros ainda apontam abril. De qualquer forma, a gratidão pelo
“nascimento” de nosso Salvador precisa estar dentro de nós em todos os
dias do ano. A data escolhida para uma comemoração não importa. É como
adiar a comemoração de nosso aniversário para fazer uma festa conjunta
com um amigo que nasceu depois. A escolha de uma data, independente de
qual seja, é útil para representar historicamente o fato, e
(teoricamente) serve para as pessoas se reunirem para celebrar o maior
dos nascimentos.
2 - A Bíblia não manda celebrar Seu nascimento = É uma afirmação
verdadeira. Realmente as Escrituras não possuem esse mandamento, assim
como não ordenam as demais milhares de coisas que fazemos ou que
comemoramos. Não há mandamento para o dia da bíblia, nem para
festividades de grupos de jovens ou de senhoras nas igrejas, ou melhor,
sequer há mandamento para a existência de uma religião. Enfim,
celebramos o nascimento de tantos amigos e parentes, por que não podemos
celebrar o nascimento de nosso Senhor? Devemos ter cuidado com esse
“farisaísmo”, para não permitir o que Deus proibiu e para não proibir o
que Deus permitiu (ou que, pelo menos, considerou indiferente).
3 - A festa centraliza a comida e a bebida, esquecendo o lado espiritual = Esse
é um grande problema. O Natal tornou-se apenas um feriado, uma data em
que se ganha presentes e uma ocasião para comer e beber à vontade.
Poucos param para pensar no que deveria representar este momento. Porém,
essa é uma questão pessoal e o erro está em cada um que pensa dessa
forma e não, na celebração propriamente dita.
4 – Tornou-se uma oportunidade de comércio =
Também é verdade e
os comerciantes sabem muito bem disso. É um período de aumento
estratosférico nas vendas, seja de utilidades para presentes, de roupas
ou de alimentos. Devemos ter cuidado para não ficarmos reféns desse
capitalismo cruel, que faz com que pessoas que mal tem o que comer
deixem de pagar suas contas para comprar produtos típicos dessa ocasião.
Se você tem boas condições financeiras e quer gastar com presentes e
comidas, cada um faz o que bem entender com seus recursos. Se não tem,
não se sinta pressionado a fazer o que os outros fazem.
5 – O Natal está baseado em cultos a deuses pagãos = Não há um
consenso sobre a origem do Natal, mas as evidências parecem apontar o
início dessa comemoração no século IV, por instituição da Igreja
Católica Romana. A data escolhida (25 de dezembro) talvez seja devido ao solstício de inverno, que marcava o início dessa estação no
hemisfério norte. Os romanos usavam essa data para celebrar a Saturnália
(homenagem ao deus Saturno) e adorar Mitra (deus da luz). Assim, embora
as inúmeras evidências apontem para uma data distante de dezembro para o
nascimento de Jesus, a Igreja adotou esse período numa tentativa de
“cristianizar” os pagãos.
Aí alguns dirão: "Está vendo? É uma festa de origem pagã!" A
esses eu repondo: muitas coisas que usamos ou fazemos atualmente tem
origem pagã. Devemos lutar sempre pela imparcialidade. Se condenarmos
tudo que tem essa origem, devemos abolir os templos religiosos (provável
origem suméria), as alianças de casamento (origem hindu ou egípcia), as
maquiagens (origem no Egito Antigo)... Mas o fato de terem essa origem
nos impede de adotarmos tais "costumes"? Não é porque um gato preto é
sinal de má sorte para os supersticiosos que eu não possa ter um de
estimação.
A Páscoa, por exemplo, tem um significado para os cristãos, outro
para os judeus e diversos outros para os demais povos. Algumas
civilizações celebravam o fim do inverno e início da primavera no mesmo
período (março). Mas o significado de cada evento depende da cultura em
questão e, mais do que isso, da consciência de cada indivíduo. Será que
alguém comemora o Natal pensando no diabo? Pelo menos eu não conheço
ninguém assim.
6 - Os enfeites de Natal são verdadeiros altares de deuses da mitologia antiga =
A origem desses adereços é extremamente controversa e podemos encontrar
várias explicações para um mesmo objeto, ou seja, há muitas
especulações que são tidas como verdades.
A árvore de Natal pode ter se originado no século XVII, na
França. Com relatos de que árvores floresceram no dia do nascimento de
Jesus, muitos passaram a enfeitar pinheiros em referência a esse
acontecimento. Outros povos adornavam árvores (em dias festivos), que
tinham um significado de vida e de esperança. Uma fábula babilônica diz
que o pinheiro simboliza Ninrode, um perverso homem que teria casado com
sua mãe. Outras evidências apontam para uma origem na Alemanha, quando
Martinho Lutero enfeitou árvores para ilustrar a crianças e a pessoas
próximas a ele como seria o céu no dia do nascimento de Jesus Cristo ou
ainda como teria sido uma paisagem que acabara de presenciar na
floresta. Esses enfeites seriam de papéis coloridos e doces, sendo, com o
tempo, substituídos por: bolas (representando os frutos e a
fertilidade), estrelas (chegada de Jesus), anjos (anúncio do nascimento
do Cristo), sinos (que anunciam grandes acontecimentos), velas (a “luz
do mundo”), guirlanda (esperança de uma vida melhor), entre outros.
Adeptos de algumas seitas vêem nesses adereços um significado
próprio, sendo que cada cor traz uma energia. A posição de cada objeto
interfere nas “forças” ocultas e até a sequência de montagem desses
enfeites deve ser de uma forma específica. Para mim, a árvore é apenas
um belo adorno, pois a única com significado no meu coração é a Árvore
da Vida, que vem de meu Deus.
Outro ponto muito questionado é o Papai Noel. Provavelmente,
tenha se originado em 280 d.C, data do nascimento do bispo Nicolau
(posteriormente considerado santo, pela Igreja Católica), na Turquia.
Esse homem teria boas condições de vida e ajudaria pessoas carentes,
dando-lhes presentes e dinheiro. Com o tempo, sua imagem foi associada
ao Natal, sendo que a característica roupa vermelha (que até então era
verde) surgiu apenas em 1886 e foi difundida por todo o mundo,
principalmente a partir de 1931, quando a Coca-Cola utilizou a imagem do
“bom velhinho” como propaganda. Hoje, em nossa cultura, é um dos
principais símbolos do Natal, fazendo parte da imaginação das crianças.
Podemos adotar esses símbolos? O que a bíblia diz?
No livro de Daniel encontramos quatro judeus que foram levados
pelos caldeus para servirem no Império Babilônico, sendo eles: Daniel,
Hananias, Misael e Azarias. Os eunucos do império trocaram esses nomes
por termos babilônicos (Beltessazar, Sadraque, Mesaque e Abednego), que
faziam referências às divindades daquele povo, e não observamos rejeição
por parte desses judeus (e Deus não os abandonou por isso). Mas quando
deveriam se prostrar diante de outros deuses, não o fizeram, por temor
ao Senhor. Ou seja, é nítido que se o costume “pagão” não influencia no
relacionamento com Deus, ou seja, se não tem intuito de adoração e se
não é imoral, não faz diferença alguma.
Na primeira epístola aos Coríntios, Paulo ensina sobre os alimentos
sacrificados aos ídolos e o mesmo ensino pode ser aplicado ao Natal e à
adoção de seus símbolos. O apóstolo ensina que os se há um único Deus,
não há sentido falar em coisas sacrificadas aos deuses, afinal são
apenas ilusões e enganações. E, se cremos que existe apenas um Deus, por
que nos preocupamos com entidades pagãs? Paulo dizia ainda que
poderíamos comer de tudo, desde que não escandalizássemos os “fracos na
fé”. Portanto, se tenho consciência disso, onde está o erro em ter uma
árvore de natal em casa, por exemplo? Como não devemos causar escândalo
para quem ainda está com uma “venda” nos olhos (não digo aqueles que já
ouviram o Evangelho há anos e insistem em dar mais importância aos seus
preconceitos e às suas opiniões do que à Palavra de Deus e sim, aqueles
que estão começando agora a caminhada com Cristo), o que podemos fazer é
ensinar o Evangelho a esses indivíduos e não colocá-los na sala de
nossa casa enquanto esse enfeite estiver lá ou enquanto não entenderem a
real mensagem de Jesus. Obviamente, então, na minha opinião, jamais
deveríamos colocar uma árvore ou um presépio num local em que vários
"irmãos" que não conhecemos terão acesso (a menos que possamos explicar
um a um o motivo da existência daquele enfeite ali). Embora não haja
nenhum erro, não podemos ser motivo de tropeço (já que, infelizmente,
podem achar que estamos fazendo essas coisas como idolatria).
I Coríntios 8:6-9 = “Todavia para nós há um só Deus, o Pai, de
quem é tudo e para quem nós vivemos; e um só Senhor, Jesus Cristo, pelo
qual são todas as coisas, e nós por ele. Mas nem em todos há
conhecimento; porque alguns até agora comem, no seu costume para com o
ídolo, coisas sacrificadas ao ídolo; e a sua consciência, sendo fraca,
fica contaminada. Ora a comida não nos faz agradáveis a Deus, porque, se
comemos, nada temos de mais e, se não comemos, nada nos falta. Mas vede
que essa liberdade não seja de alguma maneira escândalo para os
fracos.”
Infelizmente o "Natal moderno" não representa com fidelidade o
contexto histórico do nascimento de Jesus. Nessa celebração, o que
fazemos são grandes festas, com grandes banquetes, vestimos as melhores
roupas e criamos belíssimas decorações. A lembrança do real motivo do
evento acontece apenas quando há um presépio e o nosso coração está
quase sempre apenas envolvido com a troca de presentes. Ou seja, a
simplicidade da manjedoura foi trocada pelo glamour de uma festa que
valoriza apenas a exterioridade e, de forma inevitável, exclui os menos
favorecidos economicamente, que nesse período do ano, precisam se
contentar com as "esmolas", sobras ou presentinhos dados por aqueles que
possuem mais dinheiro. Enquanto a criança rica não vê a hora de chegar o
dia 25 de dezembro para ganhar um belo presente, a criança pobre chora
porque o amiguinho o desprezou, já que seus pais não tem dinheiro para
comprar o brinquedinho que ela sempre quis. Percebe como nosso Natal não
tem nada a ver com Jesus? Enquanto Cristo veio ao mundo pelos ricos e
pelos pobres, a festa apenas valoriza os que possuem algum recurso
financeiro; enquanto Jesus nasceu em uma manjedoura, em uma situação
precária, o Natal nos traz uma aparência luxuosa...
Uma vez que reconhecemos que essa festa está totalmente fora de
contexto, podemos agora ter um posicionamento crítico. Seria fantasia
imaginar que poderíamos mudar uma das celebrações mais tradicionais do
mundo, pois já faz parte da cultura dos povos, porém podemos resgatar a
essência do Natal, não por fora (na festa propriamente dita), mas no
coração de cada um de nós.
Como vimos anteriormente, os argumentos contrários à nossa
participação nessa festa não parecem muito consistentes, portanto o fato
de nos reunirmos com nossa família e amigos no Natal não significa que
temos uma visão egoísta sobre essa data; o fato de trocarmos presentes
não significa que não temos consciência do verdadeiro "presente" que
recebemos há mais de 2000 anos; o fato de termos um enfeite do Papai
Noel em casa não significa que o idolatramos como um santo...
Pactuando ou não com essa simbolização, o que determina se temos o
verdadeiro Natal em nós é o nosso coração. Cada um tem a liberdade de
comemorar esse Natal interior, que é o único que tem valor. O Natal do
coração não requer nenhum dinheiro e não acontece apenas um dia no ano, e
sim, todos os dias, através do Evangelho manifestado em nós. Dessa
forma, não apenas comemoraremos, mas também viveremos esse Natal.
Fazemos isso quando alimentamos o faminto, quando ajudamos o
necessitado, quando damos um brinquedo àquela criancinha "de rua" que
vemos todos os dias, quando ao invés de comprarmos um panetone,
compramos dois, e damos um para aquela família pobre ou para aquele
mendigo... O Natal como festa, se for desacompanhado do "espírito
natalino" é hipócrita e gera apenas maus frutos. Vamos aproveitar esse
período de festas para fazermos uma profunda reflexão sobre o amor
incomparável de Deus, que mandou Seu único Filho para nascer e morrer
por mim e por você. Vamos reconhecer isso com uma mudança nas nossas
atitudes, na nossa forma de ser e de encarar o nosso próximo. Pode
montar sua árvore, construir um presépio, iluminar sua varanda, fazer
uma ceia, mas lembre-se que a única coisa que tem valor para Deus é o
Natal que ajuda de alguma forma aqueles que mais necessitam.
Romanos 14:14 =
“Eu sei, e estou certo no Senhor Jesus, que
nenhuma coisa é de si mesma imunda, a não ser para aquele que a tem por
imunda; para esse é imunda.”
Autor: Wésley de Sousa Câmara
Referências:
Bíblia Almeida Corrigida e Revisada Fiel
Bíblia de Jerusalém
http://www.caiofabio.net
http://www.oapocalipse.com/home/estudos/cristao_10_motivos_para_nao_comemorar_o_natal.html
http://super.abril.com.br/superarquivo/2006/conteudo_192443.shtml
http://www.educador.brasilescola.com/trabalho-docente/natal.htm
http://www.suapesquisa.com/historiadonatal.htm
http://elderspov.tripod.com/doutrina_comemoracoes_01.htm
http://www.qdivertido.com.br/verpesquisa.php?codigo=14